Saudade é o Amor que fica

Transcrevi de um PPS que recebi esse emocionante relado do médico Oncologista
Dr. Rogério Brandão e a definição sábia de uma menina de 11 anos:
"No início da minha vida profissional, senti-me atraído em
tratar de crianças, me entusiasmei com a oncologia infantil. Tinha, e tenho
ainda hoje, um carinho muito grande por crianças. Elas nos enternecem e nos
surpreendem com suas maneiras simples e diretas de ver o mundo, sem meias
verdades.
Nós médicos somos treinados para nos sentirmos “deuses”. Só que não o somos!
Não acho o sentimento de onipotência de todo ruim, se bem dosado. É este
sentimento que nos impulsiona, que nos ajuda a vencer desafios, a se rebelar
contra a morte e a tentar ir sempre mais além. Se mal dosado, porém, este
sentimento será de arrogância e prepotência, o que não é bom. Quando perdemos
um paciente, voltamos à planície, experimentamos o fracasso e os limites que a
ciência nos impõe e entendemos que não somos deuses. Somos forçados a
reconhecer nossos limites!
Recordo-me com emoção do Hospital do Câncer de Pernambuco, onde dei meus
primeiros passos como profissional. Nesse hospital, comecei a freqüentar a
enfermaria infantil, e a me apaixonar pela oncopediatria. Mas também comecei a
vivenciar os dramas dos meus pacientes, particularmente os das crianças, que
via como vítimas inocentes desta terrível doença que é o câncer.
Com o nascimento da minha primeira filha, comecei a me acovardar ao ver o
sofrimento destas crianças. Até o dia em que um anjo passou por mim.
Meu anjo veio na forma de uma criança já com 11 anos, calejada porém por 2
longos anos de tratamentos os mais diversos, hospitais, exames, manipulações,
injeções e todos os desconfortos trazidos pelos programas de quimioterapias e
radioterapia. Mas nunca vi meu anjo fraquejar. Já a vi chorar sim, muitas
vezes, mas não via fraqueza em seu choro. Via medo em seus olhinhos algumas
vezes, e isto é humano! Mas via confiança e determinação. Ela entregava o
bracinho à enfermeira e com uma lágrima nos olhos dizia: faça tia, é preciso
para eu ficar boa. Um dia, cheguei ao hospital de manhã cedinho e encontrei meu
anjo sozinho no quarto.
Perguntei pela mãe. E comecei a ouvir uma resposta que ainda hoje não consigo
contar sem vivenciar profunda emoção.
Meu anjo respondeu: – Tio, às vezes, minha mãe sai do quarto para chorar
escondido nos corredores. Quando eu morrer, acho que ela vai ficar com muita
saudade de mim. Mas eu não tenho medo de morrer, tio. Eu não nasci para esta
vida!
Pensando no que a morte representava para crianças, que assistem seus heróis
morrerem e ressuscitarem nos seriados e filmes, indaguei:
- E o que a morte representa para você, minha querida?
- Olha tio, quando a gente é pequena, às vezes, vamos dormir na cama do nosso
pai e no outro dia acordamos no nosso quarto, em nossa própria cama, não é?
(Lembrei que minhas filhas, na época com 6 e 2 anos, costumavam dormir no meu
quarto e após dormirem eu procedia exatamente assim.)
- É isso mesmo, e então? – Vou explicar o que acontece, continuou ela: Quando
nós dormimos, nosso pai vem e nos leva nos braços para o nosso quarto, para
nossa cama, não é?
- É isso mesmo querida, você é muito esperta!
- Olha tio, eu não nasci para esta vida! Um dia eu vou dormir e o meu Pai vem
me buscar. Vou acordar na casa Dele, na minha vida verdadeira!
Fiquei “entupigaitado”. Boquiaberto, não sabia o que dizer. Chocado com o
pensamento deste anjinho, com a maturidade que o sofrimento acelerou, com a
visão e grande espiritualidade desta criança, fiquei parado, sem ação.
- E minha mãe vai ficar com muita saudade minha, emendou ela.
Emocionado, travado na garganta, contendo uma lágrima e um soluço, perguntei ao
meu anjo:
- E o que saudade significa para você, minha querida?
- Não sabe não, tio? Saudade é o amor que fica!
Hoje, aos 53 anos de idade, desafio qualquer um a dar uma definição melhor,
mais direta e mais simples para a palavra saudade: é o amor que fica! Um anjo
passou por mim… Foi enviado para me dizer que existe muito mais entre o céu e a
terra, do que nos permitimos enxergar. Que geralmente, absolutilizamos tudo que
é relativo (carros novos, casas, roupas de grife, jóias) enquanto relativizamos
a única coisa absoluta que temos, nossa transcendência. Meu anjinho já se foi,
há longos anos.
Mas me deixou uma grande lição, vindo de alguém que jamais pensei, por ser
criança e portadora de grave doença, e a quem nunca mais esqueci. Deixou uma
lição que ajudou a melhorar a minha vida, a tentar ser mais humano e carinhoso
com meus doentes, a repensar meus valores.
Hoje, quando a noite chega e o céu está limpo, vejo uma linda estrela a quem
chamo “meu anjo, que brilha e resplandece no céu”. Imagino ser ela, fulgurante
em sua nova e eterna casa. Obrigado anjinho, pela vida bonita que teve, pelas
lições que ensinaste, pela ajuda que me deste. Que bom que existe saudades! O
amor que ficou é eterno."
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Sim, realmente é uma linda definição para a saudade... O estado de saudade é compreensível e, de certo modo normal... Palavras, relatos podem nos tocar, porém podemos nos recusar inconscientemente a ver e aceitar o presente, faltando o entendimento da vivência do passado para nos libertarmos, aceitando o impermanente.
Para tratar a saudade, o Dr. Edward Bach através de sua divina sensibilidade nos deixou Honneysuckle, um floral que trata a alma daquilo que ela inconscientemente não consegue se libertar, pois a saudade é o AMOR que fica, não sendo necessário nos trazer dor, sofrimento... Tais emoções fazem parte de memórias ilusórias de separação, que perpetuamos através das crenças de “perdas”.
A respeito deste floral Bach escreveu: “Este é o remédio para aliviar a mente dos pesares e das tristezas do passado, para neutralizar todas as influências, todos os anelos e desejos do passado e para trazer-nos de volta ao presente.”
No Brasil temos a Madressilva (Lonicera caprifolium), sistema Dr. Edward, que trata do ‘amor que fica’, que em seu estado transformado temos uma conexão viva com o passado, aprendendo com ele, mas sem nos agarrarmos a ele desnecessariamente.
Lena Rodriguez
Em: Florais On Line
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